domingo, 12 de abril de 2020

Salas de bate-papo se transformam em refúgio




Durante a quarentena, tenho frequentado as salas de bate-papo. Para entrar, você deve comprovar que não é um robô. Clicar na foto onde estão o semáforo, as palmeiras, os ônibus. Colocar o nick "barbara cdzinha". Entrar e descobrir que tem meia dúzia de robôs lá dentro. É só botar o pé na sala, que o robô lhe cumprimenta: "Oi". 

Sempre me pergunto: como é que os robôs conseguiram entrar, se eu, que sou uma pessoa viva e em cores, tive tanta dificuldade. Chego à conclusão óbvia: os robôs são muito, mas muuuito mais inteligentes que os mortais.

Na sala, os caras fazem sempre as mesmas perguntas: "De onde teclas?", "idade?". Não respondo. Ignoro. Sou uma cd madura. Quem já me comeu sabe que idade não tem a menor importância. Vale a química, o tesão. Parto do princípio que o homem deve ter um mínimo de originalidade. Para aquele cara que, quando eu pergunto "tudo bem com você?", e ele responde: "melhor agora", abandono a conversa sem pensar duas vezes. Seja original, amor. Não custa nada.

Minha câmera estatelou-se. Eu passava a vassoura na sala, quando ela enroscou no fio da câmera e voou pedaço para todo lado. De vez em quando, antes de dormir, gostava de abrir a câmera e mostrar a bunda para os tarados. Eles me pediam para rebolar, para enfiar coisas no cuzinho. Outros se masturbavam vendo meus pés, com as unhas pintadas. 

Infelizmente, fiquei momentaneamente sem a "cam", como eles abreviam. Agora, toda vez que eu entro na sala, o cara pergunta: "Tem cam?". Cabe contar a história da vassoura e como destruí o equipamento masturbatório à distância, posicionado estrategicamente na sala.

Outra exigência muito comum nas salas de bate-papo é a urgência do número do WhatsApp. No início, caí na besteira de passar meu número. Nos dias seguintes, meu Iphone era inundado de pintos. Pintos duros, pintos meio moles, pintos caídos. Rodeados ou não de pelos. Um inferno. É claro que precisei trocar o número do telefone para ter um pouco de tranquilidade matinal. Gente, não quero ver pinto pelo telefone. Gosto ao vivo. Na minha frente. Dentro da minha boca, de preferência. 

Os semialfabetizados não conseguem escrever uma única frase legível. Eles não usam sinais ortográficos elementares como ponto de interrogação. Você fica sem saber se ele está perguntando ou afirmando. Ontem, um rapaz me mandava mensagens completamente ilegíveis. Era impossível saber o que ele estava querendo dizer. Dizia coisas como "ummiii didv cacari". 

Eles pedem também a foto. Você precisa enviar a foto para eles se certificarem que você é digna de ser comida. Eles vão analisar o material e decidir se querem ou não lhe traçar. 

Quando você se recusa a enviar a foto e o número do WhatsApp, quase sempre, o sujeito vai sair da conversa e partir para outra cdzinha, que entrega o que ele está exigindo. 

Fora esses caras malas, é comum encontrar homens carinhosos, sensíveis, que sabem conversar e dizer as coisas certas. Nesta quarentena, tenho tido a sorte de topar com homens cordiais, maduros, com os quais costumo conversar durante horas. É um consolo neste momento tão complicado que estamos vivendo, obrigadas a ficar isoladas. 

Amo passear. Frequentar as lojas de departamento, como a Riachuelo, onde compro calcinhas, vestidos e sandálias. Adoro sair montada na rua. Frequentar as quebradas. Ser paquerada. Trepar gostoso. É muito duro ficar isolada em meu apartamento, que já limpei umas mil vezes. 

A semana passada (acho que na quarta-feira) veio um amigo de longa data, casado, que, esporadicamente, transa comigo. Foi um alívio, mas, depois que ele foi embora, fica essa sensação de solidão perene. Felizmente, aliviada pelas salas de bate-papo.

Li uma reportagem que falava das garotas de programa faturando os tubos, fazendo sexo virtual. Olha só. E eu, como diziam os Heróis da Resistência, "pra tanta gente me dei de graça".

Beijos.




É tudo verdade