segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Cine Arouche - templo da pegação (7)






Os michês estão sempre por lá.
Na plateia superior, fica um rapaz baixinho de bermuda, boné e camiseta. O boné colocado ao contrário é uma identificação de que se trata de "boy". Ou seja, michê. Quando os gays - geralmente coroas - entram na sala, topam com ele, posicionado bem na entrada, ao lado de um extintor de incêndio. Esse michê costuma tirar o pinto para fora, que é de um tamanho considerável, e apresentar a "ferramenta". Ele dá uns tapas no pinto para evidenciar que o cacete está bem duro. Muito duro mesmo. Ele "estapeia" o pinto e chama a atenção do gay.
Outro dia, ele cansou de esperar a boa vontade de um cliente e gritou: "Ô Ceará, tá na hora. Vamos nessa". O cliente levantou-se e saiu com o michê para fora. Esse rapaz costuma utilizar um espaço reduzido, que fica atrás de uma divisória. Já me arrumei nesse lugar, situado no piso superior, bem ao lado do que era o banheiro feminino e que hoje está fechado. Tem uma porta, sempre fechada a cadeado. Um dia, eu estava me conjuntando, depois de ter sido desconjuntada, quando a porta se abriu e saiu lá de dentro um funcionário, de cara amarrada, que não me cumprimentou. Fez a volta na divisória e foi embora.
Uma noite, eu estava no banheiro, retocando o batom, quando outro michê, um cara negro, alto, também usando boné, falou para eu "ir para a rua". Respondi para ele que não estava fazendo programa e que tinha pago o ingresso, tendo portanto todo o direito de ficar ali. Ele ouviu a minha argumentação. Pensou um pouco e respondeu: "Vai pra rua".
Aquele rapaz - que sempre me come - contou que recentemente um michê acertou um senhor de 70 anos com uma marretada na cabeça. Houve uma desavença qualquer entre eles (essa história não está bem explicada) e o michê pegou a marreta e bateu forte na cabeça do velho. O rapaz me disse que a marca de sangue ficou vários dias no chão do cinema. O velho, de acordo com essa versão, teria ficado paralítico e desmemoriado. Uma travesti teria ido visitá-lo e contou essa história.
O fato é que o Cine Arouche ficaria muito melhor, sem os michês. Para evitar os programas, a gerência adotou uma tática bem "inteligente": retirou um cesto, que ficava bem na entrada do cine, e onde grupos de proteção à vida costumavam depositar camisinhas. Assim, não há mais camisinhas à disposição dos clientes. Na hora que os caras querem gozar ou dar o cu o risco é sempre grande de se fazer sexo inseguro, sem as camisinhas ali à disposição.

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