segunda-feira, 4 de maio de 2020

Tempos epidêmicos


Os caras com quem tenho conversado ultimamente demonstram preferência por sapatos de salto alto. É compreensível. Sapato de salto alto deixa o pé mais sensual e traz uma certa dignidade à sua portadora. Pessoalmente, prefiro rasteirinha. Essa Havaiana Saint Tropez é a minha preferida. Acho linda essa sandália, confortável e sensual, por que não. 

Mas quero falar dessa quarentena e da pandemia rapidamente...

Quando era mais nova, quando a aids ainda era uma doença fatal, sem medicamentos, não tratável, lembro de ter ido a uma sauna gay e o lugar estava assustadoramente vazio. Entrei na sauna a vapor e havia um único cara lá dentro. Encolhido. Triste. Sem saber o que fazer. Vi uma barata enorme, subindo e escorregando pela parede, morrendo lentamente pelo efeito do calor, naquilo que me pareceu uma metáfora da nossa situação. O rapaz comentou algo comigo, dizendo que "o lugar estava arruinado, vazio, às moscas". Pensei comigo: na realidade, está entregue às baratas.

Não muito tempo depois, surgiu o coquetel antiviral e a aids deixou de ser uma doença sem remédio, para se tornar um mal controlável. 

O mesmo vai acontecer com o coronavírus. Em alguns meses, vão surgir novos medicamentos e até, provavelmente, uma vacina salvadora. Ficaremos imunes. Seremos testemunhas de nossa sobrevivência - mais uma vez - até a próxima ameaça.

Para alguém como eu, que gosta de estar com homens, tem sido uma tortura essa quarentena. Sem falar no meu emprego que nem sei se estará lá, quando sair de casa. 

Estava lendo um jornal hoje pela internet e a reportagem perguntava o que a gente fará, quando essa tortura tiver chegado ao fim. A minha resposta imediata foi: vou dar muito. Pegar o primeiro cara que aparecer na minha frente de pau duro e sentar na rola. Fazer o sujeito descarregar umas dez vezes em mim. Ele não me escapa.

Em conversa, ontem, com uma cdzinha novinha, me lembrei do meu próprio percurso. Comecei usando calcinha, sutiã e lingerie da minha mãe. Nas brincadeiras com os amigos, era eu quem ficava por baixo, deixando eles se esfregarem em mim até gozar. Adolescente, comecei a chupar e masturbar os colegas. Com 20 e poucos anos, perdi minha virgindade anal. Foi uma experiência traumatizante. O cara era péssimo de cama. Doeu pra caramba. Foi inesquecível, do ponto de vista da vontade de nunca mais trepar daquela maneira. Com o tempo, vieram outros caras. Fui aprendendo a reivindicar meu prazer. Até ficar muito bom.

Geralmente, o homem que procura a cdzinha, a trans, é casado ou tem namorada, mas está em busca de algo diferente. Muitas vezes, a mulher não tolera dar o cuzinho. Com a cdzinha, ele sabe que vai ter o que precisa. Ela vai dar a bunda, sempre que ele quiser. A cdzinha também adora chupar uma rola. Se ele tiver vontade, vai deixar o pau na boca da cd até se satisfazer. 

Esse homem, levado pela curiosidade, pode chupar a cdzinha e conduzi-la ao gozo. Pode sentir prazer em fazer sexo com alguém que tem um pinto parecido com o dele. 

O desejo da cdzinha é o desejo do homem com quem ela está. Se a cdzinha vai gozar, se ela vai se satisfazer naquele momento, são detalhes de pouca importância. Para a cd, a primeira opção é o prazer do homem. Saber que ele virá sobre ela e descarregará sua carga em profusão. É um momento de realização para a cd. Saber que satisfez seu homem, que ele pode voltar para a sua esposa ou namorada mais leve, mais em paz consigo mesmo. 

A cdzinha (a trans, a trava) também reconhece que ela sempre será a segunda opção. A primeira vai ser a esposa, a namorada, para quem ele retorna, depois de satisfazer seu desejo pouco ortodoxo.

Conheci cds e travas que casaram com mulheres héteros, com lésbicas, com transexuais. Mas foram raras as que se casaram com homens. Pensando bem, só tenho uma amiga trava, que é casada com homem. 

É o nosso destino de trans. Saber que, da mesma forma que eles vêm, eles irão embora. Mas tudo bem. Vale cumprir a nossa finalidade que é a de dar prazer para eles. Hoje e sempre.     

   

2 comentários:

É tudo verdade